sábado, 17 de julho de 2021

O Preço Da Carne Subiu: Há Alguma Razão Para Comemorar?

 

Aumentou o preço da carne de boi, da carne de frango, da carne de porco e do ovo. Isso é bom para os animais?

O aumento do preço dos produtos de origem animal no Brasil ocorre dentro do âmbito do capitalismo, que não tira folga nem na pandemia. Nesse cenário, pessoas economicamente mais vulneráveis terão maior dificuldade de consumir aquilo que habitualmente consomem.

Isso quer dizer que menos animais serão mortos?

Definitivamente, não. O Brasil exporta produtos animais e a máquina industrial de exploração animal continua crescendo.

Porém, consumidores de menor renda acabam mudando as opções de consumo por uma questão estritamente financeira.

Então a flutuação de preço nada muda?

A flutuação de preço não muda a realidade para os animais porque a produção e o consumo continuam existindo, apenas mudando o destino dos produtos.

O porco executado que antes viraria presunto de um brasileiro na periferia, vira bacon de alguém no sudeste asiático.

O veganismo não é sobre o preço que o mercado estipula para comercializar corpos e secreções de seres sencientes.

O veganismo é sobre o direito que todos os animais possuem de viverem uma vida livre. De não terem rótulo, não terem embalagem e não terem preço.

sábado, 30 de maio de 2020

Minneapolis: As Supremacias Que Matam Humanos Como George Floyd E Porcos Que Não Demos Nome

George Floyd, cidadão estadunidense, foi detido no bairro de Powderhorn, localizado ao sul do centro de Minneapolis. A acusação era de uso de uma nota falsa de vinte dólares em estabelecimento comercial. 

Algemado, deitado, imobilizado. Foi com George nessas condições que um policial daquele país, no "exercício de suas funções", prensou o pescoço da vítima contra o solo. O indivíduo vulnerabilizado informou que não conseguia respirar e que aquilo o iria matar. Ainda assim, o policial seguiu indiferente. Câmeras de vídeo registraram o assassinato nesse vinte e cinco de maio.

O racismo, institucionalizado nos Estados Unidos da América e em diversos países de história escravagista no mundo, fazia mais uma vítima fatal. Seria uma vítima anônima se não fosse o registro das imagens. Mas essa, com nome, sobrenome e testemunhas, causou justa revolta em torno do corpo estendido no chão.

Seguiram-se protestos. Todos os quatro oficiais envolvidos diretamente na execução foram demitidos no dia seguinte. Importante lembrar que tanto Derek Chauvin (o policial que assassinou George) quanto os outros três policiais (identificados como Thomas Lane, Tou Thao e Alexander Kueng) não são exceções à regra da prática corporativa. É comum e recorrente que pretos nos EUA sofram abusos em abordagens, detenções, julgamentos. O racismo passa longe de ser um caso isolado. O racista, este sim, precisa ser isolado do convívio social.

Os protestos, que iniciaram de forma pacífica, mais tarde envolveram manifestações de depredação. Nenhuma depredação, seja ela um vidro quebrado ou uma parede incendiada, pode ser comparada ao dano físico infligido a um ser senciente. A vida de George Floyd e de qualquer outro indivíduo vítima do racismo, dentro e fora dos Estados Unidos, é muito mais importante que qualquer propriedade privada eventualmente danificada. 


É absolutamente legítima a revolta popular que se verificou em Minneapolis. Com exceção de uma. Um dos manifestantes exibiu uma cabeça de porco enquanto protestava. Provavelmente, uma mensagem direcionada à polícia estadunidense - o porco, animal dócil e sem qualquer manifestação racista em sua trajetória evolutiva, é usado como xingamento e depreciação para uma corporação que abusa, agride, violenta e mata inocentes. Evidentemente, uma analogia totalmente fora de propósito e de caráter fundamentalmente especista.


Se fosse um cartaz retratando um porco, já seria grave pelo simbolismo. Mas uma cabeça? Um indivíduo inocente ser decapitado para servir de alegoria em uma manifestação contra o racismo? Isso é eticamente indefensável. E somente seremos capazes de desconstruir o racismo quando formos capazes de entender que tanto ele quanto o especismo compartilham de uma origem idêntica: a idéia de que um grupo possua menos valor intrínseco do que outro e possa vir a ser subjugado para qualquer finalidade arbitrada pelos supremacistas. É assim que brancos oprimem pretos. É assim que homens oprimem mulheres. É assim que humanos oprimem porcos. E é enfrentando todos os mecanismos discriminatórios, conjuntamente, que poderemos libertar cada vulnerável e, finalmente, fazer o mínimo de justiça no mundo. Do contrário, continuaremos vivendo, morrendo e manifestando a barbárie.

terça-feira, 26 de maio de 2020

A Série Rotten - Uma Crítica Necessária

Rotten é uma série documental de abordagem sociocultural, socioambiental e socioeconômica - não necessariamente nessa ordem. Com um caráter investigativo e questionador, possui uma narrativa fiel ao que propõe. Mas, afinal, o que Rotten propõe?

Até o momento dessa publicação, assisti cinco dos dez episódios disponíveis na plataforma Netflix, sendo três da primeira temporada e dois, da segunda. Foi possível perceber que todos esses cinco episódios apresentam algumas similaridades no fio narrativo. 

Um ponto positivo rapidamente identificável é a argumentação crítica que, em tom quase de denúncia, mostra as diversas perversidades sistêmicas - notadamente partindo de relações espúrias entre governos e grandes corporações. Por outro lado, há pelo menos um (grave) ponto negativo: é que a série, com sua retórica fundamentalmente materialista, acaba dando vida ao capital e objetificando aqueles que vivem. E é precisamente sobre esse desserviço que a presente publicação procura tratar.

Para abordar essa postura objetificadora de seres sencientes, utilizaremos como referência o terceiro episódio na primeira temporada, intitulado Raposas No Galinheiro. São aproximadamente 51 minutos de duração e, na descrição oficial deste episódio, consta: "O implacável e lucrativo mercado de produção de frangos acaba jogando os criadores uns contra os outros, deixando-os vulneráveis a atos ilícitos". 

Eis que a primeira imagem - aquela que abre o episódio - é a de um galináceo passeando sobre um gramado em ambiente aberto. E, já no primeiro minuto do episódio, surge o vocabulário que dará o tom da coisa: "Precisamos cultivar mais carne", naquelas que foram as primeiras palavras do primeiro explorador a cometer uma declaração no presente episódio.

Nesse momento, você que faz a leitura pode até pensar algo do tipo: "Essa é a visão e a linguagem do explorador de frangos, o que não necessariamente representa a perspectiva e o tratamento oficial dos autores da série". Pois bem, eis que não demora muito - são cerca de onze segundos no relógio - para que a narrativa oficial profira o endosso daqueles termos: "uma indústria que cria e colhe vidas".

É exatamente isso: o sistema que massacra milhões de frangos diariamente foi categorizado como "uma indústria que cria e colhe vidas". Se o verbo criar já é por si só polêmico, o que dizer do verbo colher nesse contexto? É como se cada frango fosse transferido do reino animal para o vegetal e sua execução passasse a receber o simpático rótulo de colheita. Você consegue imaginar uma matéria nas páginas policiais com a seguinte manchete: "Assassino em série colhe a terceira vítima"? Se isso soa estranho, que bom, pois assassinato e colheita não estão no mesmo campo semântico.

O episódio avança (cerca de dezessete minutos) e expõe um caso onde um indivíduo teria invadido unidades de confinamento de galináceos para, num ato de sabotagem, matar centenas de milhares de indivíduos. Indivíduos que já seriam mortos, mas que, com o ato ilícito do sujeito, veio por causar prejuízos econômicos aos "criadores" que tinham agendado a "colheita" de seus escravos. Por se tratar de um crime contra a economia e contra a propriedade (afinal, trata-se aqui de uma invasão e de uma execução não legalizada), podemos ver que o vocabulário narrado na série muda: "O assassino entendia de aves". Exatamente: dessa vez, aquele que mata animais é finalmente chamado por aquilo que é - assassino. Um termo bem diferente de algo ou alguém que "cria e colhe vidas", não é mesmo?

Fica evidente que o assassinato, na visão da série, não se dá em função da ação de matar alguém. O assassinato se dá em função da (i)legalidade do ato. Ou seja: aquele que mata causando prejuízo econômico a outrem, comete um assassinato. Já aquele que mata sistematicamente conforme os ditames industriais, realiza uma colheita. Essa abordagem é temerária e mostra como o viés capitalista se sobrepõe à própria dimensão ética.

Minutos depois, essa posição fica ainda mais explícita ao se referir a James Lowery, o principal suspeito da matança não agendada de animais: "Se (a alegação) fosse verdade, Lowery havia cometido um crime único: assassinato de frangos em série, aproveitando-se das grandes criações do mercado de frango". Aqui se escancara o viés pró-capitalismo e anti-vida: enquanto o ilegal comete assassinato em série, o institucionalizado apenas realiza grandes criações. Para o frango, sabemos bem, o crime é rigorosamente o mesmo. Portanto, os termos empregados também deveriam ser.

Apesar disso, o episódio traz informações relevantes (e ao mesmo tempo assustadoras): "Desde a década de 1950, a quantidade de aves criadas nos EUA aumentou 1.400%, enquanto o número de criadores despencou 98%" (grifo nosso). Isto é, são cada vez mais indivíduos sendo executados pelas mãos (leia-se lâminas) de grupos cada vez mais poderosos. O assassinato em série - no nosso vocabulário abolicionista não encaixa o termo "grandes criações" - está deixando mais vítimas fatais do que jamais houve na história e, ao mesmo tempo, está concentrando renda nas mãos de menos gente.

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O que deixa a discussão mais interessante é quando entra a JBS nessa ciranda de sangue. A série é incisiva na crítica a essa megacorporação de origem brasileira. Só que não pelo fato de ser a maior assassina de animais terrestres no planeta, mas por ter pego uma significativa parcela de clientes ao adquirir empresas estadunidenses, entrando com o pé na porta no mercado global de proteína animal (leia-se cadáveres animais). A aquisição da Pilgrim`s Pride pela JBS alavancou essa dominância competitiva e isso parece incomodar mais os documentaristas da série do que o fato de que o negócio lucrativo se fundamente no massacre de indivíduos sensíveis. Até porque, era exatamente assim que funcionava na "colheita" dos antigos proprietários do negócio.

Quando descreve as práticas corporativas da JBS, o termo usado por Rotten não é nem "assassinato" nem "colheita". Eles ficaram mais ou menos no meio do caminho - a palavra escolhida foi "abate". Ou seja, o crime da maior produtora de frango do mundo é mais brando que o de um sabotador pessoa física e mais grave que o dos criadores estadunidenses

Nas palavras de Wesley Batista, fundador do grupo JBS: "Por dia, processamos cerca de 12 milhões de aves". Não, o sr. Wesley e a JBS não estão reivindicando indenizações às suas vítimas. "Processamos", aqui, é um eufemismo para a execução sistemática. Ou, para assassinato em série.

A "otimista" mensagem final vem do "criador" Reid Phifer (o mesmo que iniciou o episódio sentenciando que "precisamos cultivar mais carne"). Nas palavras dele: "O frango vai continuar prosperando, pode crer". Evidentemente, não há "prosperidade" alguma numa vida onde o próprio corpo é uma mercadoria com data para ser retalhada. Na mente do "criador", o ser frango já foi suprimido até como idéia, dando lugar ao negócio. E é à prosperidade do negócio de massacrar frangos que ele se refere.

Caro sr. Reid, deixa eu te contar uma coisa: frangos, assim como você e eu, possuem a capacidade de experienciar alegria, prazer, dor e sofrimento. Não vieram a este mundo para servir aos humanos (como se fossem uma espécie inferior), da mesma forma que pretos não vieram a este mundo para servir aos brancos (como se fossem uma raça inferior), bem como mulheres não vieram a este mundo para servir aos homens (como se fossem um gênero inferior). Por mais que te pareça absolutamente normal criar, engordar e colher frangos, isso ainda é a reprodução, confinamento e execução de seres sencientes. A etapa mais moderna - e mortal - da escravidão.

Somente a libertação é justa. E ela, com o tempo, há de refletir no próprio vocabulário.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Califado - Uma Ótima Série Para Refletir Sobre Opressão

A série Califado (produção sueca adquirida pela plataforma Netflix) aborda o tema do Estado Islâmico no contexto do recrutamento de pessoas que não necessariamente tinham uma prévia familiaridade com o islamismo. Esse aliciamento é uma pauta bastante presente nesse século e causa muitos debates na geopolítica internacional, com diversas nuances a delimitar a fronteira entre a liberdade de exercício religioso e a prática terrorista.

Primeiramente, vamos à definição de califado, que trata-se da forma islâmica monárquica de governo. O líder religioso do califado é o califa, considerado pelos muçulmanos como um dos sucessores do profeta Maomé (na tradução do árabe, khalifa seria a abreviação de khalifatu rasulil-lah, expressão que significa Sucessor do Mensageiro de Deus).

A história narrada na série se passa entre a Síria (mais especificamente na cidade de Raqqa) e a Suécia (sobretudo na capital Estocolmo). Na ótima trama - que não deixa ponto sem nó -, Pervin vive o drama de tentar fugir da caótica Raqqa para retornar à Suécia. Sua esperança reside nos esforços da policial Fátima, que atua no Serviço Secreto Sueco e condiciona a ajuda a Pervin somente se receber informações sobre atentados terroristas prestes a acontecer no país nórdico. Pervin, então, acaba adentrando numa espionagem perigosa, colocando a própria vida em risco para obter as informações que seriam repassadas para Fátima. 

Enquanto o Estado Islâmico arquiteta os ataques, Ibrahim Haddad, conhecido por seus pares como O Viajante, tem a tarefa de não somente preparar os atentados como também de aliciar jovens suecas para levá-las à Síria, com a sacra promessa de aproximar suas almas de Alá. E ele faz isso com maestria, dificultando que a vítima perceba se tratar de um esquema sofisticado.

Com esses elementos, o enredo carrega uma riqueza de valores e sentimentos que são muito bem trabalhados nas excepcionais atuações do elenco, sobretudo de Pervin (anote o nome da atriz: Gizem Erdogan), cuja performance convence, envolve, emociona.

Nesse texto, não pretendemos aprofundar sobre como a história caminha até o seu surpreendente final. Queremos, isto sim, analisar os acontecimentos sob uma perspectiva abolicionista. E, acredite, Califado é um prato cheio para essa abordagem.

Pervin. Jovem, esposa de Husam e mãe da bebê Latifa, a quem se dedica em tempo integral. Uma mulher de fibra, que "veste" a fé islâmica na amargura da desilusão com a vida em Raqqa. Ela quer libertar a si e a sua filha de uma realidade violenta, arbitrária e opressora, onde em nome de Alá os homens subjugam as mulheres como se fossem objetos pessoais. Pervin luta com todas as forças físicas e psíquicas por uma abolição em relação ao Estado, à religião, ao patriarcado. 

Husam. Casado com Pervin, segue a doutrina do califado à risca mas vive em constantes transtornos psicológicos pelo trauma de ter matado crianças e pela completa aversão à idéia de ir para o fronte de luta jihadista. Husam não deseja se tornar um mártir, mesmo que isso o leve ao paraíso prometido. Ele quer apenas viver. E, se por um lado objetifica sua própria esposa, por outro, é ele próprio um instrumento do Estado Islâmico. Quando percebe que sua vida está efetivamente por um fio, se junta à Pervin na missão de tentar fugir daquela realidade.

Fátima. Insatisfeita com o andamento das coisas no seu ambiente de trabalho, encontra na sua informante Pervin a maneira de fazer a diferença e concentra todos os seus esforços em tentar impedir o ato terrorista que se aproxima. A opressão sofrida por Fátima dá-se exclusivamente no ambiente laboral e, naturalmente, afeta seu bem-estar psicológico e molda toda a sua conduta de resistir às negações dos superiores hierárquicos.

Sulle e Lisha. Duas irmãs, classe média, estudantes. Sulle, a mais velha, é questionadora e tem muitas críticas ao sistema sociopolítico sueco. Influenciada por Ibrahim, se reaproxima do islamismo e é seduzida na idéia de fugir para a Síria e viver profundamente sua relação com Alá. Lisha, a mais nova, é mais discreta e dá a entender que o sonho de Sulle não é o mesmo que o seu. Ledo engano. Acaba se mostrando mais radical que a própria irmã e vem por protagonizar uma das maiores reviravoltas na série.

Há muitos outros personagens importantes, como o próprio Ibrahim (O Viajante), o pai de Sulle e Lisha (que dá uma aula de interpretação na sequência em que descobre que suas filhas fugiram), Nadir (superior hierárquico de Fátima no Serviço Secreto Sueco), entre outros.

Mas se focarmos especificamente em Pervin, Husam, Fátima, Sulle e Lisha, já conseguimos ver a costura comum da luta contra a opressão, cada uma sendo travada conforme as suas visões de mundo absolutamente pessoais. E, nessa tecitura cotidiana, a busca por algo imaterial - que não raramente converge em um caráter religioso - por vezes leva a trajetórias que mais afastam do que aproximam do sagrado. Até porque, o caminho para Alá não precisa ser trilhado pela literalidade do Corão. Assim como o percurso até Deus não se dá estritamente pela estrada da Bíblia. A relação é íntima. E quanto mais lúcido for o entendimento de que nenhuma forma de opressão se justifica, faz-se desmoronar a estrutura de grupos que usam o nome do Criador para promover violência, roubo e barbárie. Um cenário que nos é bastante familiar dentro do próprio Brasil.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Austrália Assassina 10 Mil Camelos: 'Consomem Bastante Água'

10.000 camelos estão prestes a serem executados por franco-atiradores na Austrália. A alegação é a de que o senciente 'consome bastante água'. 

Camelos conseguem consumir até cem litros de água de uma vez e, graças à sua capacidade de acumular gordura nas corcovas, consegue ficar grandes períodos de tempo sem ingerir qualquer líquido e sem sofrer desidratação. É um organismo adaptado ao deserto.

Humanos possuem a recomendação de consumir pelo menos dois litros de água por dia. A maioria de nós não chega a beber isso. Mas consome muito mais água que qualquer camelo: em cem gramas de um bife proveniente da execução de um boi há em torno de 1.500 litros de água gastos no processo produtivo.

E por falar em execução de boi, a pecuária, no Brasil, executa 10.800 sencientes dessa espécie a cada 3 minutos.

O sangue que vai jorrar na Austrália é digno de indignação. E o sangue que jorra nesse momento no Brasil, é justificável pelo hábito de consumir cadáveres? 

O camelo, o boi, você, eu, na Austrália, no Brasil, em qualquer lugar, temos o direito intrínseco de viver a vida para nossos próprios propósitos. Nossa importância para nós mesmos é um valor absoluto. E qualquer ação que relativize o direito de alguém viver é, necessariamente, arbitrária.
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sobre A Escravidão Animal - Uma Inspiração Que Vem Do Carnaval

Aclamada tanto pela crítica especializada quanto por pessoas que costumam acompanhar a festa mais à distância, a escola de samba Paraíso do Tuiuti foi a grande protagonista no carnaval 2018.

Passou uma linda mensagem de libertação, que começou com uma comissão de frente emocionante (veja o vídeo) e que terminou com críticas contundentes ao governo de Michel Temer (veja o vídeo), arrancando lágrimas e gritos das arquibancadas no sambódromo carioca.

Embalado por esse clima abolicionista, esse tópico traz uma versão animalista do samba-enredo defendido pela agremiação neste ano. E se a questão central fossem os animais não-humanos de um modo geral? A pergunta que dá título ao enredo permanece: Meu Deus! Meu Deus! Está Extinta A Escravidão?

Irmão, seja macaco ou chimpanzé
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não sou da sua espécie, e nem rezo a sua prece
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida 
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e me colocar num prato de feijão com arroz

Eu fui marmita, presunto, salame
Fui linguiça e mortadela, servido em rodela
Sofri nas unidades industriais
Morri nos abatedouros onde se aniquilavam todos

Ê, vegano, ê! Ê, vegano!
Porco Velho me contou, Porco Velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem bacon, não, senhor

Amparo do solidário ao porco vulnerável
Um grito feito berro de gente
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um ser senciente

E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu festa na lama
Abolicionista como os grandes ativistas
Fui comemorar em família essa conquista vegana

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar, não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte toda espécie animal

Não sou escravo de nenhum carrasco
Meu Paraíso é a veganização
Meu Tuiuti, livrai-nos da panela
Acenda uma vela onde haja um churrasco


Cena da comissão de frente que encantou e emocionou público e jurados no carnaval 2018.